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Como discernir a vocação?

Toda profissão é um meio de amar, de servir, de ser útil, e para isso Deus nos deu os talentos. Então, é preciso antes de tudo pedir a Ele que nos dirija para o caminho profissional adequado.

É Ele que nos guia, inspira e conduz na vida profissional e pessoal quando a gente pede o auxílio de sua graça e procura fazer a sua vontade.

Diz o salmista que “se não é Deus quem edifica a casa, em vão trabalham os seus construtores” (Sl 126,1). Certamente Deus não nos dará riquezas abundantes, mas nos dará o necessário para viver e fazer a sua vontade.

“Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça, e tudo o mais vos será dado por acréscimo” (Mt 6,33).

Para se escolher a profissão é preciso conhecer os nossos talentos, aptidões e interesse; e pedir a Deus que nos conduza.

Quando eu era jovem, tinha meus vinte anos, estava na Academia Militar de Agulhas Negras; já no penúltimo ano do curso de oficiais do Exército, e bem classificado em minha turma. Mas tive uma crise vocacional; não queria ser militar; queria ser professor; não foi fácil tomar a decisão de deixar uma carreira profissional já conquistada, segura, para o resto da vida. Mas sinto que Deus me conduziu para o magistério. Com uma coragem que só pode ter vindo Dele, eu deixei o Exército e fui ser professor, contra a vontade de todos. Continuei meus estudos e logo comecei a dar aulas em um colégio estadual. Depois que me formei, prestei concurso para professor na Universidade de Itajubá, MG; e passei no concurso, com 22 anos de idade. Deus confirmava minha vocação. De lá para cá já são 40 anos de magistério, com muita alegria. Deus me guiou no escuro, mas eu senti sua mão santa.

Deus nos guia mesmo sem a gente perceber. Ele não nos mostra o futuro; apenas nos guia no presente, para que dependamos amorosamente dele. Eu gosto muito do Exército, e sou-lhe grato pela boa formação humana e moral que me deu nos cinco anos que fui cadete; é uma instituição séria e honrada; mas não era a minha vocação; se eu não tivesse mudado não teria feito tudo o que pude fazer até hoje. Hoje entendo que Deus me guiou; ele não me queria naquela profissão.

No momento certo Deus me guiou; colocou a minha frente pessoas boas e adequadas que podiam me orientar; e isso não deve ser desprezado. Deus age em nossa vida através dos bons conselheiros e dos acontecimentos. Jesus ressuscitado caminha conosco, mesmo que não sintamos sua presença amiga. Ele é muito discreto.

Se você estiver em dúvida sobre o que fazer, peça a Deus a graça do discernimento, procure bons conselheiros, faça a sua parte; na hora certa Deus te iluminará e lhe dará coragem para decidir.

O mais importante é não desperdiçar a vida; como disse Michel Quoist: “Solteiro ou casado só o egoísta desperdiça a vida”. Se você tem vocação para o casamento, então, procure uma pessoa que tenha seus valores. Comece com boas amizades; seja amigo, seja fiel, seja cordial, seja simpático. Muitas amizades se transformam em bons namoros. E entregue tudo nas mãos de Deus.

Se a sua vocação é o sacerdócio ou a vida religiosa, pergunte a você mesmo se tem aptidão para isso:
1. Tem vontade de entregar sua vida totalmente a Deus, sem guardar nada para você?
2. Deseja trabalhar como Jesus pela salvação das almas?
3. Deseja não se casar para servir somente a Deus, por toda a vida?
4. Você gosta de rezar bastante?
5. Você ama a Igreja, o Papa, os bispos, Nossa Senhora, os Sacramentos, a Liturgia?
6. Você gostaria de viver uma vida de oração, penitência, simplicidade, pobreza evangélica?
7. Você gostaria de servir a Igreja e obedecê-la sempre?
8. Você está disposto a obedecer ao seu bispo ou seu superior a vida toda, qualquer que seja a decisão deles sobre você?
9. Você ama a Bíblia e gosta de meditar seus versículos e capítulos todos os dias?
10. Você está disposto a dar a vida pela Igreja, pelas almas e por Jesus Cristo?

Se a sua resposta for sim; procure um sacerdote para orientá-lo nessa bela caminhada a serviço de Deus e do seu Reino.

A Palavra de Deus, como disse o salmista, é “luz para nossos pés”, então, é muito importante meditá-la, especialmente nas horas de dúvidas e incertezas, tristezas e angústias. Ela nos socorre nas horas amargas, especialmente nas madrugadas de insônia quando nossas dúvidas não nos deixam dormir.

Muitas vezes fui buscar na Palavra de Deus consolo, orientação, força para decidir e coragem para manter a decisão.

É claro que não podemos fazer da Bíblia um amuleto, algo mágico que vai me dar a resposta a tudo que preciso decidir; não. Deus quer que usemos nossa inteligência, vontade, consciência, liberdade, aconselhamento, autocritica, etc., quer que procuremos a ajuda de outras pessoas. Mas, nas horas de angústia, devemos pedir-lhe uma palavra de socorro; repito, não faça isso sem critério; pois seria como tentar a Deus, deixando de fazer a nossa parte.

Uma das muitas experiências que tive com a palavra de Deus, foi quando era diretor do Campus da USP em Lorena-SP, antes que se tornasse uma Instituição do governo estadual, lutávamos quase desesperadamente para salvar a nossa boa Faculdade de Engenharia que estava às portas da falência, quando nossa manutenção foi cortada pelo então governo Collor. Mas fomos à luta, e conseguimos com muito trabalho e oração salvar a Instituição, com a ajuda de Deus. Enfim, numa noite feliz, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou a estadualização de nossa instituição. Parecia um sonho; algo quase impossível. Quando cheguei em casa, às 3 horas da madrugada, abri a Bíblia, e meus olhos encontraram um Salmo que dizia:

“Aos abandonados Deus preparou uma casa, conduz os cativos à liberdade e ao bem-estar; só os rebeldes ficam num deserto ardente.” (Sl 67,7)

Não foi possível conter as lágrimas naquela noite!

Por Prof. Felipe Aquino

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