Estado de vida é um dom que Deus concede a cada pessoa com a finalidade de melhor capacitá-la a amar e a servir. A Comunidade Católica Shalom é composta por fiéis como: celibatários pelo Reino do Céus; casados e solteiros; sacerdotes, diáconos e seminaristas. Unidos por uma consagração de vida, eles têm como modelo a diversidade e a unidade das três pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Os celibatários refletem a pessoa do Espírito Santo e atuam como instrumento de fecundidade e de poder espiritual para a Comunidade e para a Igreja.
O celibato foi tomando corpo nas diversas formas de vida consagrada na Igreja. Também na vocação Shalom, o Senhor chama muitos à doação total do seu coração, corpo e tempo a Ele, à Obra e aos irmãos, através do celibato consagrado. Estes irmãos são membros legítimos da Comunidade e têm os mesmos direitos e deveres dos outros membros. Assumem o voto de castidade através da vivência da continência perfeita, abraçada voluntariamente em favor do Reino de Deus. Eles vivem uma oblação, um sacrifício de louvor agradável a Deus.
Vale destacar que o celibatário não é alguém que simplesmente renuncia ao amor conjugal, mas é antes alguém que se propõe a amar mais a Deus e aos seus irmãos, abrindo mão de um amor exclusivo por uma pessoa. Dessa forma, o celibato não é a negação da afetividade e da sexualidade, antes, ele constitui um redirecionamento dos mesmos. A oferta silenciosa da vida de um celibatário é fonte de vida no Espírito para a Comunidade e para a humanidade inteira. Os frutos muitas vezes são imperceptíveis aos olhos humanos, mas sabemos na fé que não é vã a vida de alguém que se entrega plenamente a Deus e ao serviço da sua vinha.
Deus tem suscitado membros da Comunidade de Vida e da Comunidade de Aliança Shalom a descobrirem o seu chamado ao celibato. Vitor Frota, responsável por animar esse estado de vida entre os membros da vocação, partilha pontos importantes para o reto discernimento. De acordo com o missionário, que é celibatário com votos perpétuos, o processo é feito a partir da atenta escuta da voz do Senhor.
Não há um tempo específico para que o discernimento aconteça. O segredo está naquilo que Deus revela ao coração da pessoa. No caminho, alguns galhos velhos e secos precisam ser podados. E isso não pode acontecer de qualquer jeito, precisa ser pela ação do Espírito. É Ele quem purifica as mentalidades contrárias ao Evangelho, os desvios morais, as paixões desordenadas, os vícios, os pecados e as marcas do passado.
Inquietações: É a partir das inquietações acerca do Estado de Vida que o discernimento começa. Na oração, Deus vai dando pistas sobre o chamado. A pessoa deve estar atenta a esse movimento interior. Vale destacar que as inquietações não necessariamente são diretamente relacionadas ao celibato, mas ao processo de discernimento. A reta intenção de conhecer a vontade de Deus sobre essa realidade da vida humana é o primeiro e o mais importante passo.
Formação Pessoal: Tendo sentido as inquietações iniciais acerca do discernimento do Estado de Vida, a pessoa deve partilhar na formação pessoal. A partir daí, com a ajuda do formador, o processo de discernimento ganham mais ênfase. É importante destacar que quem discerne o Estado de Vida é a pessoa e não o formador, mas a ajuda dele é fundamental para não cair na tentação do engano próprio.
Formação Comunitário: Depois de viver um bom processo de escuta da vontade de Deus com a ajuda do formador pessoal, é preciso partilhar com a formador comunitário. Essa partilha marca um novo tempo no caminho de discernimento, pois com a ajuda do formador comunitário será possível elencar de forma ainda mais concreta as motivações que leva a pessoa a dar o passo em vista dessa forma de vida específica.
Retiros de Escuta: Quem está discernindo se o seu chamado é o celibato deve estar atento aos retiros que a Comunidade oferece, pois são momentos oportunos para a escuta qualificada de Deus. Longe de tudo e de todos, em um deserto, é possível escutar melhor a voz do Senhor que chama para uma vida mais perto dele. Nesse sentido, vale destacar também a importância dos retiros pessoais.
Testemunhos: O contato com irmãos e irmãs que já vivem o Estado de Vida é muito importante. Conhecer a experiência deles e compreender as graças e os desafios desse chamado favorece o processo de discernimento. Os testemunhos desses irmãos e irmãs pode iluminar o caminho de quem está discernindo se Deus o chama ou não a uma vida doada inteiramente a Ele.
Os sinais: Ao longo do processo, Deus dá alguns sinais que são muito importantes para o discernimento. É necessário estar atento a tudo e a todos a partir de um olhar sobrenatural. É esse olhar que acompanhará o celibatário para o resto da vida, pois tudo o remeterá para a eternidade. Ele mesmo será um sinal desse para sempre.
Algo a mais: Participar de pregações sobre discernimento do Estado de Vida e sobre o celibato é uma boa dica para quem está nesse cominho de descoberta da vontade de Deus. Além disso, os livros podem ajudar na compreensão desse chamado de forma muito significativa. Há, inclusive, que tenha tido grande auxílio no processo por meio do Sacramento da Confissão. Tudo isso, é claro, a partir da orientação dos formadores que favorecem a tranquilidade na vivência desse tempo.
O compromisso: Depois de um bom tempo de escuta da vontade de Deus, a pessoa parte para um passo muito importante: os primeiros votos no celibato. Essa etapa expressará externamente aquilo que era vivenciado no interior dela. Vale destacar que o caminho até esse dia deve ter sido marcado pela voz de Deus, pois não é somente uma escolha humana, mas divina. Deus é o mais interessado na felicidade plena de seus filhos. A renovação dos votos acontece durante cinco anos até o dia em que o chamado ao celibato se consumará para sempre com os votos definitivos.
“Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós.” (2 Cor 4, 7)
Quando chega a hora de discernir o Estado de Vida e corresponder ao chamado de Deus, parece que tudo tende a ficar confuso, como se tivesse um véu. Uma hora acho que é matrimônio, outra hora penso no celibato ou até mesmo sacerdócio. E para não seguir tateando, finalmente, chega-se a uma conclusão de que é preciso buscar a ajuda de alguém mais experiente para deixar tudo às claras. Em relação a tudo isso, Josefa Alves, celibatária, fala a seguir sobre as verdadeiras motivações para trilhar esse caminho. “Na verdade, não depende de nós mesmos, mas é preciso abrir o coração e se abrir a escuta”.
A apresentadora do programa Fazendo Barulho, Delni Bezerra, partilhou sobre o seu chamado ao celibato. A jovem de 23 anos conta como foi a condução de Deus até os primeiros votos nessa forma de vida específica. Ela é Shalom, Comunidade de Vida e celibatária pela graça e misericórdia do Senhor que muito a amou. A consagrada destaca que é na doação, na oferta e na missão que Deus vai revelando a sua santa vontade.
Desde o postulantado, Delni sentia o desejo de ser toda de Deus. Mas foi no discipulado que o processo de discernimento do estado de vida foi de fato aberto. “Eu sentia que era o celibato, mas era algo não oficial, pois Deus ainda não tinha dito com todas as letras”. Ao fim do ano formativo, ela foi enviada em missão para o Rio de Janeiro. Na bagagem, levou as palavras do Padre Rômulo que dizia: “Estado de vida é serviço”.
Retiro, Reciclagem e Célula
Delni participou do Retiro dos Candidatos ao Celibato e percebeu que realmente Deus a chamava a esse estado de vida. “Era isso mesmo, mas eu ainda não estava pronta para dar esse passo”, explica. De acordo com a missionária, o Senhor foi quebrando barreiras que a impediam de dar seu sim a Deus. Ela confessa que ainda chegava a se questionar: “Será que isso não é um amor esponsal mais aflorado? Vai que Deus quer que eu me case”.
No entanto, quando a jovem rezava Deus confirmava sua vocação. Em 2016, na Reciclagem, tudo a levava a pensar no celibato. Em uma oração, o Senhor a falou: “Hoje eu te chamo a ter segredos comigo”. Pronto. Delni partilha que teve uma forte experiência de rendição ao celibato nesse retiro. A partir disso, ela passou a ir assumindo o estado de vida. “Eu sou celibatária”, dizia para si. “Se você quer isso, eu me rendo”, dizia para Deus.
Na célula (um dos compromissos dos membros do Shalom), uma irmã de Comunidade perguntou se Delni estava caminhando para o celibato. A jovem confirmou e pediu oração. Essa irmã partilhou que quando rezava pela missionária Deus dizia que dava a ela a missão de viver a castidade e de ajudar muitos jovens a também vivê-la. “Essa foi outra confirmação da vontade de Deus”, ressalta. O celibato era uma cura, era um bálsamo, para a sua vida.
Mas só tenho 23 anos
“Eu fiquei com medo porque eu tenho 23 anos. Meu Deus, eu ainda sou muito jovem! E se eu me apaixonar?”. Esse questionamento habitou por um tempo o coração da jovem consagrada. No entanto, crescia dentro dela a certeza de que só experimenta a felicidade quem tem coragem de confiar. Ainda sobre a idade, ela escutou de sua formadora pessoal: “Você se acha muito jovem para viver a santidade?”. Delni compreendeu que só tem o hoje para dar seu sim a Deus.
O motorista da Uber
A reação das pessoas é engraçada quando descobrem que a jovem é celibatária. Algumas se assustam, outras sentem pena e compaixão, outras ainda admiram a escolha. Certa vez, ao pegar um Uber, escutou do motorista que namorar era bom e que não era pecado. Ele fez isso depois que ela partilhou que vivia o celibato. Com paciência, a jovem aproveitou a oportunidade para evangelizar. Apesar dele ter passado o caminho inteiro sem acreditar e acolher, Delni contou que já tinha namorado e que essa experiência, inclusive, a ajudou a entender que o seu estado de vida não era uma fuga.
Por Delni Bezerra
Meu nome é Wendel Nobre, tenho 24 anos e sou missionário da Comunidade Católica Shalom como Comunidade de Aliança na missão de Fortaleza. O que venho partilhar com vocês hoje é um pouco da minha história, aliás, mais que isso, o meu apaixonamento por Jesus, no celibato pelo Reino dos Céus.
Sempre fui um jovem normal que, apesar de acreditar em ideologias vazias, buscava viver a rotina natural de jovem de 17 anos. Estudar, trabalhar e sair com amigos. Porém, ao lado desta aparente normalidade, existia um grande vazio interior que não me permitia, muitas vezes, sentir-me um jovem totalmente feliz.
Foi então que, ao aceitar um convite de uma tia para participar do Festival Halleluya, no ano de 2011, experimentei o amor de Deus e o quanto Ele me desejava inteiramente, mesmo sem entender direito, meu coração dizia que deveria conhecer mais a Comunidade Shalom, e assim fiz meu Seminário de Vida no Espírito Santo e tornei-me ovelha de um grupo de oração.
O desejo de casar
Nos anos seguintes, conheci melhor a Comunidade Shalom e o chamado a vocação particular (enquanto missionário) a viver um vida consagrada em prol da humanidade e dos jovens como Comunidade de Aliança. Trilhei o caminho vocacional e, sentindo que era ali o meu lugar, disse sim ao chamado de Deus.
Tendo discernido minha vocação e crescendo em espiritualidade fui, ainda no postulantado, assumindo como natural o desejo de casar e constituir uma família afinal, nada mais natural para os membros da Comunidade de Aliança.
Portanto, no início do meu postulantado, eis que iniciei o caminho do namoro e, dentro dos meus projetos pessoais, claro, a oportunidade de crescer e amadurecer no amor ao outro e no autoconhecimento.
Tudo parecia bem, até que, mesmo sem minha, à época, namorada saber, pensei; “Neste início do meu discipulado, na minha reciclagem, vou pedir a Jesus para noivar!”.
Bendita reciclagem, bendito discipulado que interveio em meus projetos humanos! Nos primeiros dias, logo Jesus me haveria de surpreender. Uma passagem, num momento de súplica intensa, me interpela; “Filhas de Jerusalém, pelas cervas e gazelas do campo, eu vos conjuro: não desperteis, não acordeis o amor, até que ele o queira!”.
O término do namoro
Deste momento em diante, o ardor no meu coração e os diversos pedidos de sinais a Jesus sobre a sua vontade. Nenhum dos sinais, mesmo irrelevantes, foram esquecidos e eu, naquela reciclagem, entendi que Jesus me chamava a ser totalmente dEle.
Dor, vergonha, revolta e diversos bate-boca diante de Jesus marcaram os próximos sete meses após a reciclagem até o término do namoro. No início de fevereiro, em meio a lágrimas, terminamos, minha namorada e eu, nosso relacionamento de quase três anos.
No mesmo mês de fevereiro, qual surpresa teria, (estava ainda um pouco triste) ao ser enviado a coordenar um Renascer numa Obra de Irradiação de Fortaleza. Jesus já falava, sua vida será consumida PELO REINO.
Ao retornar, no final do mesmo fevereiro, em Retiro de Planejamento, na Diaconia Geral, onde tive a graça de participar, Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Shalom, durante um momento de oração proclamou a seguinte profecia:
“Diz o Senhor: ‘Neste tempo de grande ação de Meu Espírito, quero chamar jovens ao celibatos. Quero a oferta de jovens que se sintam pequenos e fracos, mas que queiram se entregar por inteiro a Mim, como oferta, em favor da ação do Meu Espírito na Comunidade’” .
O celibato não é apenas para a Comunidade de Vida
Foi o que faltava, percebi que, ao contrário do que pensava, o celibato não é sinônimo de solidão. O Reino de Deus não nos deixa a sós. O celibato não é a última opção. O celibato é a melhor opção para quem a ele é chamado. O celibato não é refúgio, fuga ou negação. O celibato é oferta, fecundidade e inteireza de coração. O celibato não é apenas para a Comunidade de Vida. O celibato é doação aos outros, mesmo nos meios seculares. O celibato não é apenas para mulheres. O celibato é também para homens que são eleitos pelo Esposo.
A partir de então, 13 de maio de 2018, iniciei o celibato formativo a fim de discernir meu estado de vida. Iniciei o caminho de preparação com retiros pessoais, de candidatos e por fim, após a reciclagem de 2018, escrevi meu pedido e em 2019, no início do ano, após recorrentes insistências de Jesus, mesmo sem saber se faria minhas primeiras promessas, enviei.
Hoje, 11 de junho de 2019, dia de São Barnabé, meu santo intercessor deste ano, apesar de toda a minha fraqueza, mesmo sem entender o porquê, aos 24 anos, jovem, homem, Comunidade de Aliança, farei meus primeiros votos no celibato pelo Reino dos Céus.
Ao professar os votos, trago comigo todos os jovens que, mesmo sem ainda terem descoberto, trazem a vocação a este belíssimo estado de vida!
Conto com vossas orações!
PELO JOVENS E PELOS POBRES!
Por Wendel Nobre
Que Deus suscite cada vez mais vocações celibatárias!
Via Comunidade Shalom