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O chamado para a vocação eucarística e sacerdotal

A Providência de Deus conduziu minha vida em torno do Altar da Eucaristia e para o Altar da Eucaristia. Muito cedo, no dia em que completei cinco anos, tive a graça de me aproximar pela primeira vez da Mesa do Senhor. Se a Igreja sempre pediu que da Eucaristia se aproximasse quem distingue o Corpo do Senhor, foi presente d’Ele ter comungado conscientemente, numa total desproporção diante de meus limites pessoais. Certamente, a graça de Deus passou pelo zelo de meus pais, que identificaram dois chamados, ao Altar da Eucaristia e ao Altar da vocação sacerdotal. Souberam apresentar-me à Mãe Igreja, que me acolheu com afago! De lá para cá, para a glória de Deus e acolhimento de Sua graça inesgotável, devo testemunhar que cada comunhão foi sempre consciente, ponto alto do meu dia a dia!

Minha vocação foi acompanhada, desde tenra infância, por sacerdotes que souberam cultivar as sementes plantadas pelo Espírito de Deus, que supera todos planos humanos. Foi um deles, padre Raphael Martins, meu padrinho de Crisma, que soube estimular com sabedoria o menino que gostava de “brincar de Missa”. Meus familiares e vizinhos da terra natal, Nova Lima (MG), sabem o quanto minha casa se transformava em capela, envolvendo a todos.

Como a Escritura mostra a Sabedoria “brincando diante da face de Deus” (Cf. Pr 8,22-31), aprendi brincando, num sentido muito positivo, e encantei-me com as coisas de Deus.

Primeiros passos para a vocação sacerdotal

Muito novo, antes de completar onze anos, entrei para o Seminário Provincial do Coração Eucarístico de Jesus, em Belo Horizonte (MG). Entrei para não sair mais. Deus me concedeu a graça de viver os tempos maravilhosos do Concílio Vaticano II no Seminário, no processo de formação, vivido com todos os seus desafios, na Igreja, em nosso país e no mundo.

Recordo-me de que à certa altura, aos dezoito anos, no ano desafiador de 1968, de tantos movimentos ligados à juventude pelo mundo afora, assistindo à televisão, vi a notícia de um jovem de minha idade, na então Checoslováquia, banhar-se em gasolina e atear fogo em si mesmo, na praça central da cidade de Praga, para se transformar numa tocha humana de protesto contra a invasão de tropas estrangeiras. Senti que o Espírito Santo suscitou em mim uma pergunta sobre o que eu efetivamente seria capaz de fazer pelo Senhor, em quem acreditei e depositei minha confiança. Naquela ocasião, recolhi-me diante de Jesus Sacramentado e fiz uma nova escolha de Deus, capaz de iluminar todos os passos dados dali para frente. Malgrado todos os meus limites pessoais, sei que continuamente retorna à mente e ao coração a escolha definitiva, que mudou minha vida, dando-me rumo diferente e capacidade de sempre recomeçar.

Acompanhei e vivi muitas crises próprias do tempo de grandes reformas pelas quais passava a Igreja. Quando o grande Seminário de Belo Horizonte mudou suas estruturas, fazia parte do pequeno grupo de quatro seminaristas conduzidos por dois sacerdotes que recomeçaram tudo, praticamente do zero, certos de que era o Senhor quem nos fazia sementes do grande e maravilhoso horizonte aberto para as vocações na Arquidiocese de Belo Horizonte a partir dali. Aprendi outra vez que Deus é o Senhor da história!

No ano de 1972, circunstâncias diversas levaram a Arquidiocese de Belo Horizonte a entregar-me, apenas ordenado diácono, à minha aróquia de origem. O Senhor me confiava uma missão desproporcional à idade e capacidade humana, mas Sua graça nunca me faltou. Dois anos depois, tendo sido ordenado no dia da Assunção de 1973, ajudado pela presença de um irmão sacerdote nomeado para uma paróquia vizinha, descobri a espiritualidade da unidade, no Movimento dos Focolares.

A presença da Renovação Carismática Católica e o movimento Focolares

Novos rumos, nova escolha, jeito novo de ser padre, fundado na certeza da presença de Jesus no meio dos que se reúnem e agem em seu nome. Durante este tempo, conheci também a verdadeira revoada do Espírito Santo chamada Renovação Carismática Católica, cuja presença me envolveu a ponto de, anos depois, ter sido nomeado Assistente Espiritual dos Carismáticos do Brasil inteiro. Em 1976, a graça da Escola Sacerdotal do Movimento dos Focolares, em Roma, quando toda a teologia estudada foi redescoberta com novas luzes. Retornando ao Brasil, bastaram poucos meses para que a Arquidiocese me confiasse a reitoria do Seminário. A metade dos seminaristas era mais velha do que eu. Outra vez, sentia-me muito novo para as tarefas que me foram confiadas. Assisti ao florescimento do Seminário de Belo Horizonte, exercendo ali várias funções. Eram tempos bonitos e desafiadores, quando a criatividade do amor de Deus me lançou a novos desafios!

Visita de João Paulo II a Belo Horizonte, na Missa com a juventude, em 1980. Quando o Arcebispo me apresentou ao Papa, senti suas mãos fortes sobre meus ombros e uma expressão: “Muito novo”! Por intermédio do Papa, senti que Deus me pedia para não dar desculpas frente ao Seu chamado. A última etapa de trabalho na formação sacerdotal foi com os seminaristas e a Paróquia de São Geraldo, em Belo Horizonte. Depois, fui nomeado Pároco de Bom Jesus do Bonfim e Santo Antônio de Vargem Alegre, de 1989 a 1981, quando, numa manhã de Quarta-feira Santa, recebi a comunicação de que o Papa me nomeara Bispo Auxiliar de Brasília. Não havia completado 41, e fui escolhido para o episcopado. “Muito novo!” Não havia motivos para dar desculpas.

O caminho para o arcebispado

Na manhã luminosa do dia de Santa Maria Goretti, em 1991, fui ordenado bispo e parti para os quase cinco anos da extraordinária aventura de trabalhar em Brasília (DF). Deus sabe quantos e quão bonitos laços se criaram! Em 1996, apenas quarenta e seis anos, recebi a tarefa de ser o primeiro Arcebispo de Palmas (TO). Quatorze anos de missão, na fundação de uma Igreja, cujas marcas são indeléveis em meu coração e em minha vida de fé. Desde 25 de março de 2010, sou Arcebispo de minha querida Igreja de Santa Maria de Belém do Grão Pará, onde celebro esse jubileu de prata, com meu Bispo Auxiliar Dom Irineu, cercado pelo amor do Povo de Deus, dos Padres, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Membros de Comunidades de Vida e Aliança e de todas as forças vivas da Igreja! Vinte e cinco anos na comemoração dos quatrocentos anos de início da Evangelização da Amazônia e da fundação da Cidade de Belém, às portas do XVII Congresso Eucarístico Nacional, aqui em nossa Arquidiocese.

Nesses anos, graças incontáveis, como o acompanhamento das Comunidades Novas do mundo inteiro, os organismos pontifícios nos quais fui chamado a servir, a participação em vários trabalhos e comissões da CNBB e tantas outras atividades. Vinte e cinco anos e sinto que apenas estou começando de novo, pois hoje é o primeiro dia do resto de minha vida, não me sendo dado o direito de me estancar, pois quem para já está regredindo!

A síntese de minha vida episcopal pode ser encontrada na Palavra de Vida pessoal recebida de Chiara Lubich, em 1978m, que veio ser meu lema de vida episcopal: “O Pão que eu darei é minha Carne para a vida do mundo” (Jo 6,51). Naquela ocasião, Chiara augurava que eu me identificasse com o mistério da Eucaristia, deixando-me consumir para ser eucaristia para o mundo. Se muito alta era a proposta, posso assegurar que o Deus que alegra a minha juventude (Sl 42,4) tem-me sustentado os passos! A Ele toda honra e toda glória. Amém!

Por Dom Alberto Taveira Corrêa (via Canção Nova)

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