A apresentação do Senhor, a qual, celebramos com toda solenidade neste dia, é uma festa de antiga tradição. É considerada como memória conjunta do Filho e da Mãe. Ou seja, os protagonistas do dia são Jesus e Maria, ao lado do seu esposo José. Jesus cumpre a oblação de si mesmo ao Pai, que completa-se sobre a Cruz. Maria, juntamente com José, oferece o divino Filho com a dificuldade íntima de uma renúncia que inaugura a missão corredentora. Não se celebra um mistério alegre, e sim, uma antecipação da Páscoa, que se traduz em cada Eucaristia celebrada, na qual o pão e o sangue são transubstanciados como Corpo e Sangue de Cristo. “Entrará no seu templo o Senhor que buscais”, vai dizer o Profeta Malaquias, sobre esse misterioso evento profético, que é uma prodigiosa exultação de libertação, de universalidade, de esperança. Nesta dimensão coloca-se como um vazo aberto, esperando ser preenchido: a história da humanidade se parte, porque aparece apresentado o enviado de Deus. Jesus entra no templo e através de um rito purificatório, ainda um pequeno bebê, prova pela boca de Simeão e de Ana, que a salvação chegou. Apresentado no templo, Jesus é o consagrado do Pai e, por Ele, toda a humanidade também é consagrada ao Pai.
Mas, hoje, celebra-se o consagrado, aquele que em alguma forma de vida religiosa, consagra-se a Deus por inteiro. Para mostrar o elemento divino e o elemento humano da consagração dos seres humanos, usa-se uma dupla fórmula teológica: “consagração passiva” e “consagração ativa”. A consagração passiva é aquela na qual a pessoa humana é sujeito passivo, enquanto Deus é o sujeito agente: a pessoa humana é consagrada de Deus, ou seja, Deus consagra a pessoa humana. A consagração ativa é aquela onde o sujeito agente é a pessoa humana, ela que se consagra a Deus. A consagração é um mistério: é o resultado da iniciativa divina e da colaboração humana. A prioridade, do ponto de vista bíblico e teológico, corresponde sempre a Deus.
A consagração passiva tem sempre um caráter prioritário de Deus. Pode ser expressa com outras formas significativas: a pessoa humana é escolhida, eleita, separada, ungida, compreendida por Deus. Mais frequente é o uso de outras formas similares para a consagração ativa: a pessoa humana empenha-se totalmente, esvazia-se, doa-se, entrega-se, oferece-se, faz oblação de si mesma a Deus.
E quem é o consagrado?
O verdadeiro consagrado a Deus, deveria ser neste mundo um outro Cristo. Jesus se faz oblação/oferta total de si mesmo a Deus. Portanto, deve ser consciente de que, o verdadeiro consagrado, entra no templo do coração da pessoa humana, levando uma pessoa: Jesus Cristo, e esse “levar Jesus” é o caminho do Calvário, ou seja, vive o mistério pascoal todos os dias da sua vida. O consagrado não presta apenas um assistencialismo social. O verdadeiro consagrado a Deus deveria ser um outro Simeão; antes de tudo por estar sempre no templo, na presença de Deus, com súplicas e orações pelo povo santo de Deus, e também, por estar no templo, esperando e acolhendo Jesus, que vem nas pessoas que sofrem tantas coisas, sobretudo, os distantes de Deus.
O verdadeiro consagrado a Deus deveria ser uma outra Maria, Aquela que, oferecendo o Divino Filho ao mundo, sabe e professa verdadeiramente que Ele é o Senhor. O consagrado deveria fazer isso com a própria vida, não somente com as palavras soltas ao ar, que podem até ser belas, mas precisam ser coerentes com as atitudes. Portanto, o verdadeiro consagrado a Deus deveria ser neste mundo obscuro, o reflexo da Luz que é Jesus, pois, ele é um mensageiro de Deus. Contudo, isso só será possível, quando a tentação do fechamento do coração apagar-se.
Por Padre Anderson Marçal (Via Canção Nova)