Hoje em dia não tem como falar de normalidade porque tudo é novidade. Se antes você saía todos os finais de semana para dar umas voltas, agora está convivendo o tempo inteiro com seus parentes. Isso se torna desesperador quando a convivência é desagradável.
É natural para o ser humano procurar um meio para fugir de seus problemas. Mas nós aqui não estamos querendo viver o natural, correto? Estamos atrás do sobrenatural, pois é lá que está nosso futuro. Quantos de nós não pensamos na morte? E se eu morrer? A realidade bateu na porta e muitas pessoas, assim como eu, começaram a olhar para dentro, e ainda mais profundamente para si.
Este olhar para dentro me lembrou uma história do livro “O Céu Começa em você – A sabedoria dos padres do deserto” de Anselm Grün. Havia um monge que estava muito irritado com sua vida no mosteiro pois todos os outros monges não o deixavam em paz. Aborrecido com tudo, foi para o deserto onde não teria ninguém para perturbá-lo. Tendo sede, foi até o poço para buscar água. Cada vez que buscava a água no poço, ao devolver o pequeno balde para o fundo, a jarra cheia de água caía no chão. Ele repetiu o processo por cerca de três vezes e da mesma forma a jarra tombava. Muito irritado, jogou com muita força a jarra contra o poço quebrando-a em muitos pedaços. Sem jarra para levar a água, parou por alguns segundos e pensou em voltar para o mosteiro, pois descobrira que o problema, na verdade, estava com ele.
Parei de ficar colocando a culpa nas outras pessoas para explicar minhas irritações. O monge não tinha ninguém por perto e foi capaz de ficar irritado. Eu me identifiquei muito com essa história. Comecei a olhar para o meu interior e vi o tanto de coisas que preciso mudar. Eu não tinha assiduidade na oração. Ficava péssima com isso.
Temos um chamado à santidade! E com esta frase batendo na porta e entrando na minha vida eu tinha que me movimentar para correr atrás do tempo perdido. Lamentar tudo o que fiz de errado não ia resolver, então comecei a procurar meios de me santificar. Para começar eu precisava de um modelo. Já estava lendo o Livro da Vida de Santa Teresa D’Ávila (primeiro livro onde a santa descreve sobre sua vida), mas confesso que no primeiro arroubo pulei para o “Caminho de Perfeição” (segundo livro onde ensina as monjas carmelitas a ter uma vida de oração). Tudo é muito lindo e maravilhoso! Acontece que sou casada e tenho dois filhos; por mais que eu tente não conseguia chegar nem às sandálias de uma vida de oração das monjas carmelitas.
Esta angústia levou um bom tempo (estou tentando resumir). Eu até tentei conversar com alguns padres para me aconselhar, mas eu acredito que eles não estavam entendendo o problema dos meus “pecadinhos” veniais ou eu quem não sabia explicar (fico com a segunda opção). As perguntas apareciam frequentemente. Olhava para tudo o que os santos fizeram em vida para chegar ao céu e comparava com a minha vida. Que horror! Impossível de se comparar (peço que me perdoem, mas fiz isso).
Um belo dia, antes de toda essa pandemia, um casal de amigos passou o fim de semana conosco. Quando estavam indo embora, minha amiga se deu conta de ter perdido uma corrente. Quando meu marido entregou para ela, já entrando no carro para seguir viagem, eu a interrompi e perguntei: que pulseira é essa? Ela disse que não era uma pulseira, mas uma “cadeia”, pois ela é escrava de Maria e Consagrada. Minha amiga olhando para minha feição cheia de dúvidas me disse com carinho: “depois te explico pelo zap”.
Não vou entrar nos detalhes de tudo o que ela fez comigo durante esta pandemia, mas uma das coisas foi ler o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem” desde o dia que começou o isolamento. A corrente era um símbolo que ela era escrava de Maria. Eu fui achando tudo isso muito interessante e comprei o livro.
Você está com certeza perguntando qual a relação de tudo isso com o título desse artigo. Leia até o fim para entender.
Eu fiz o curso on-line do Padre Paulo Ricardo para consagração e fui estudando muitos artigos. A verdade é que Maria, em seu silêncio e humildade, estava me encaminhando para Jesus e para tirar todas as minhas dúvidas, porque, assim como seu Filho, ela me conhece e eu não iria sossegar sem as minhas respostas.
Procurei um padre para conversar (com todo cuidado e de máscara). Já cheguei explicando a ele o que eu queria contando uma breve história da minha vida. Tenho ainda muito o que aprender e ainda sou muito relapsa nas orações, mas eu não sou perfeita e se eu ficar esperando perfeição nunca me consagrarei. Pedi a ele: “quero me consagrar”. Expliquei a ele: eu sei os deveres de um sacerdote ordenado, as “Laudes”, recitação do Santo Terço, celebrar a Missa todos os dias, e muitas outras regras. As monjas carmelitas também possuem regras e tantos outros deveres de sua ordem. Mas e eu? O que a Igreja me pede no Sacramento do Matrimônio? Eu sei que preciso ser fiel, amar, respeitar, lembro do meu juramento. Educar os filhos na lei de Cristo e da Igreja, mas e o resto? E a nossa vida espiritual?
Foi então que ele me deu a resposta tão esperada com um sorriso (eu sei que estava sorrindo mesmo de máscara). “O papel do casal é o papel do leigo cristão casado. Eu sou padre e sei das minhas responsabilidades, dos meus deveres, da vida de oração, mas eu não tenho família, não tenho filhos para dar de comer. Mas você tem os seus deveres de esposa, mãe. E seria estranho que a Igreja te obrigasse, por exemplo, a fazer a Liturgia das Horas. Como uma mãe faria isso tendo que muitas vezes ficar acordada durante a noite para cuidar dos filhos? O leigo tem a missão de levar Jesus aonde eu não posso”, dizia o padre. Não é à toa que o dia do leigo é no mesmo dia de Cristo Rei do Universo.
E o padre continuou: “Aqui na igreja onde eu fico, Jesus já é rei! Ele reina aqui no templo. Mas lá fora, é missão do leigo fazer com que Jesus seja rei, pois o reino de Deus não é de imposição e autoritarismo, mas de amor e liberdade. Não é a liberdade e o amor que vemos por ai, mas um amor de doação ao próximo e uma liberdade de se tornar servo de Deus, nosso Senhor. A missão de vocês é muito mais dura que a minha. Vocês estão em contato com todo o tipo de pessoas no trabalho, dentro da família, pessoas que eu não consigo alcançar. Eu trago Jesus e dou as armas necessárias para que vocês, leigos, possam ir para o mundo anunciar o Evangelho de Cristo e fazer com que Ele seja o Rei do Universo. Você irá evangelizar não somente por palavras, mas principalmente pelo exemplo, pelo testemunho de vida”.
Eu entendi o meu chamado, eu entendi a minha missão. Mas e a vida de oração? E o lado espiritual do meu estado de vida? E ele concluiu: “Faça da sua vida e dos seus deveres de mãe e de esposa uma oração constante. Quando fores preparar o almoço, louve a Deus e agradeça o alimento; quando for cuidar dos filhos abençoa-os; se vier a dor, ofereça como sacrifício. A vida é um ato constante de sacrifício de louvor. A vida de intimidade com Deus não pode ser esquecida, mas a missão principal são a família, a casa, os filhos, o cuidado com cada detalhe, fazendo Jesus Cristo ser o rei da sua casa, do seu trabalho, contagiando a todos pelo testemunho de vida e amor a Deus.”
A vida no matrimônio é uma guerra contra o maligno e todas as forças espirituais do mal. Se você ainda não sentiu isso ou não compreendeu, talvez você esteja “do jeito que o diabo gosta”. A vida em Cristo é cheia de provações, o mal não quer perder, pelo contrário, quer tratar-nos como gado que engorda com pecados para nos abater no inferno. Não se acomode com sua “vida boa” ou com sua “vida de tragédias”.
Somos os soldados da linha de frente, mas se estamos equipados com a armadura de Deus, o cinturão da verdade, a couraça da justiça, o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito, venceremos todo o mal. Cada um em sua posição contra todas as investidas contra a família, tendo a Rainha ao nosso lado, essa proteção especial de Mãe, a qual a serpente só poderá lhe ferir o calcanhar.
Por Marcela Buback, do Hozana