Ordem é, de acordo com o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 322, “o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos seus Apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos”. Aqui, trato da fundamentação bíblico-teológica desse sacramento.
O Velho Testamento conheceu o sacerdócio exercido pela tribo de Levi do qual Aarão, o irmão de Moisés, é protagonista (cf. Êx 29,4-9). A função desses sacerdotes era a de ser ponte entre Deus, o Santo por excelência, e o povo, pecador e infiel, oferecendo-Lhe sacrifícios de animais irracionais. Tal sacerdócio e sacrifícios era gerido por regras rígidas e minuciosas (cf. Nm 3,11-39; Lv 1,1-37, 34).
Ora, o Senhor Jesus aboliu o antigo sacerdócio levítico, tornando-Se Ele mesmo o único sacerdote da nova e eterna Aliança, segundo o modelo de Melquisedeque, rei e sacerdote (cf. Hb 7,1-28; 10,4-10), e ofereceu um único sacrifício: o de seu sim a Deus, em oposição ao não dito por Adão (cf. Rm 12,21).
No entanto, Cristo não aparece como sacerdote, propriamente, na grande maioria dos escritos do Novo Testamento por duas razões principais: 1) Ele não era da Tribo de Levi (só dela poderiam vir os sacerdotes), mas, sim, da Tribo de Judá; 2) o título de sacerdote facilmente se confundiria com os da Antiga Aliança ou das religiões pagãs. Daí, para os judeus, Jesus ser um leigo.
Todavia, os escritos bíblicos apresentam o Senhor como aquele que traz em si um sacerdócio novo e superador daquele exercido no Antigo Testamento. Esse modelo sacerdotal trazido por Cristo é insinuado, em Is 52,13-53;42, ao tratar da figura um tanto misteriosa do Servo sofredor, personagem que assume sobre si os pecados alheios e deles presta contas, merecendo, assim, o perdão a todos. Veja-se, por exemplo, 2Cor 5,21 e Gl 3,13.
Ainda mais: a morte de Nosso Senhor é descrita usando uma linguagem própria do rito de sacrifício ou, de modo indireto, linguagem sacerdotal: 1Cor 5,7; Jo 1,19; Ap 5,9-10; 1Pd 18. Outras vezes, Cristo é apresentado como Aquele que se entrega em favor ou dá o seu sangue em benefício dos seres humanos: Jo 6,51; 10,11.15; Lc 22,19; Mc 10,45; Ef 5,2.25; 1Jo 2,2. Cf. também: Gl 1,4; 2,20; 1Tm 2,6; Tt 2,14 etc. Como se vê, embora eles não deem a Jesus o título explícito de Sacerdote, deixam bem subentendido ser Ele o Sacerdote a oferecer-se ao Pai pelos pecados do mundo.
Cristo mesmo se apresenta como aquele que realiza em si o que é dito do Servo de Javé (cf. Lc 4,17-21; Mc 10,45). Em consequência de sua Paixão gloriosa, Jesus, no céu, continua seu ministério sacerdotal (cf. Rm 8,34; 1Tm 2,5-6). Mais: a Carta aos Hebreus apresenta, de modo formal, Cristo como único e verdadeiro sacerdote da Nova Aliança a se oferecer ao Pai como vítima em favor da humanidade carente (cf. 7,26-27; 9,12-15; 10,12-24).
O Pe. Albert Vanhoye, SJ, na obra A mensagem da Epístola aos Hebreus, p. 84, assim escreve: “O autor respondeu com extraordinária agudeza à questão que os cristãos se colocavam: a questão do sacerdócio […] Cristo é o nosso sacerdote. Mas não é resposta simplista. Longe de aplicar ao ministério de Cristo a ideia que se tinha do sacerdócio, tal como existia antes, ele aprofundou o seu sentido a ponto de renová-lo completamente. Desse modo, ele pôde mostrar que Cristo não apenas possui o sacerdócio, mas também é o único sacerdote no sentido mais pleno da palavra, pois foi ele o único que abriu aos homens o caminho que leva a Deus e os une entre si. Cristo nos faz passar de um culto necessariamente exterior e ineficaz, marginal em relação à vida, para oferenda que toma toda a realidade de nossa existência e a transforma profundamente, na adesão filial a Deus e no devotamento fraternal”.
Leia, com atenção, cada citação bíblica proposta e descubra, com mais agudeza, a maravilha do sacerdócio de Cristo presente em Sua Igreja. Continua!
Por Padre Bruno Roberto Rossi, via Aleteia