É significativo que o Papa tenha seu primeiro encontro com a comunidade cristã iraquiana na Catedral de Nossa Senhora da Salvação, sede da Arquidiocese Sírio-Católica de Bagdá, uma das maiores igrejas da cidade. Em todos os cantos dessa igreja vibra um passado feito de dor e feridas ainda abertas. Esta catedral, foi alvo de dois ataques terroristas, um dos quais, em 31 de outubro de 2010, pelo auto proclamado Estado islâmico, extremamente sangrento, no qual 48 pessoas morreram – entre elas dois sacerdotes – e cerca de 70 ficaram feridas. Localizado no distrito central de Karrada, o atual edifício, inaugurado em março de 1968, foi construído no local de uma pequena igreja erguida em 1952, para acomodar os católicos sírios que na época eram muito numerosos.
Na véspera da visita do Papa, irmã Narjis Henti, iraquiana, nos fala sobre vários aspectos da presença de cristãos e religiosos no país que Francisco vem reconfirmar na fé e encorajar no compromisso com a coesão social.
O que significa ser religioso em um país complexo como o Iraque?
Ir. Narjis: A presença dos religiosos no Iraque é de grande importância, é acima de tudo a presença de Cristo, aquela que cada um de nós conhece desde a infância e depois reconhece nas dores e guerras pelas quais passamos. O Cristo amado como consolador e presença certa ao nosso lado. Desde criança senti a presença de Cristo em minha vida e em minha família e quis responder ao seu chamado. Ser religioso no Iraque também é importante para o contexto, em um país com maioria muçulmana em que as liberdades não são plenas quanto no Ocidente: para nós, estar aqui significa estar no seio da Igreja iraquiana que está viva e florescente. As missas, o catecismo, os domingos, a comunidade se mostra viva e para cada um de nós religiosos representamos o vínculo com Deus, o único que dá alegria e força.
Nos tempos e na história tão difícil deste país, o que significa a presença religiosa cristã? Qual tem sido a sua importância?
Ir. Narjis: No Iraque, a presença religiosa dos cristãos sempre foi importante, especialmente nas relações construídas com a maioria muçulmana. Com eles, a relação é de confiança. O cristão aos seus olhos é uma pessoa honesta, uma pessoa que conhece a Deus, mesmo que um Deus diferente do seu. Para a Igreja em geral, a presença cristã ao longo dos anos tem sido acima de tudo um testemunho e, a partir de 2003, mas também antes, um testemunho do derramamento de sangue. Assim foi para nossa coirmã morta em 2002, mas também em Mosul para nosso pai espiritual ou para o bispo: todos eles foram testemunhas de alegria e coragem, testemunhas da presença de Jesus. E este testemunho foi importante não só para os cristãos, mas para todos os iraquianos.
Assim que o Papa chega ao Iraque, logo depois de cumprimentar as autoridades, ele encontra os religiosos e bispos na Catedral Católica Síria de Sayidat al-Nejat, cenário de um violento ataque em 2010 com dezenas de vítimas entre cristãos e muçulmanos. O que a senhora gostaria que o Papa dissesse para encorajar a todos em sua escolha de fé?
Ir. Narjis: Eu diria que somente a presença do Papa, mesmo sem palavras, é suficiente para nós e é uma grande alegria. É a primeira vez que um Papa visita o Iraque, um país profundamente enraizado no cristianismo e, portanto, apenas o fato de ele estar entre nós nos dá esperança, alegria e é um estímulo para seguir em frente em nosso caminho, para superar os obstáculos que vivemos diariamente. O que esperamos? Esperamos um paterno afeto, para nos acolher como ele sempre sabe fazer e para nos unir à nossa Igreja no mundo, não nos fazendo sentir abandonados, mas sim uma Igreja, ortodoxa, armênia, católica.
Por: Gabriella Ceraso – Vatican News