Nasci em Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Meus pais se chama Laura e Neri. Ela trabalhava como contadora e ele como motorista de ônibus.Tenho apenas uma irmã, mais velha que eu, chamada Lisandra. Da vida de fé na primeira infância lembro-me sempre de minha mãe ensinando-me a rezar ao pé da cama antes de dormir, de levar-me à missa e tentar fazer bagunceira sossegar (como tantas mães). Mas o gesto mais cristão de minha família era a noção forte de solidadriedade que nutriam. Tiravam do que não tinham para ajudar os que precisavam mais do que nós. E isso sempre repetindo: “isso serve para a gente agradecer a Deus o pouco que tem”.
Quando tinha 8 anos de idade mudamo-nos para Santa Catarina, no município de Balneário Gaivota, uma prainha na região sul do Estado. Tínhamos muita proximidade com os padres de nossa paróquia, especialmente com o Pe. Orfeo Miatto, um italiano apaixonado pelo Brasil, e que muito me incentivou. Entrei no seminário menor aos 13 anos, e de lá saí aos 15. Uma breve experiência mas que me marcou para sempre.
Um ano depois mudei-me para Florianópolis. Longe da família e estudando, vivi distanciado da fé cristã, mas com o coração sempre instigado e questionante. Nada me dava resposta. Só tinha certeza das orações de minha mãe, que dizia que com o tempo eu teria respostas.
Com 20 anos o coração já não sabia mais onde buscar. Mas o Espírito tem das suas. Consegui uma bolsa de pesquisa e me afastei do dia a dia da universidade. Fui para Porto Alegre, por causa da pesquisa, e fiquei morando numa das regiões mais pobres e violentas da cidade. Morei com algumas famílias em situação de exclusão, de discriminação, de pobreza extrema. Deus voltava a revelar seu rosto pobre para mim.
Volto para Florianópolis com o coração transformado (se bem que na época eu pensava que era só transtornado!). A pastoral universitária, na época feita pelo Frei Luiz Antonio Frigo, me cativou. Era hora de voltar ao primeiro amor. Com 22 anos iniciei o acompanhamento vocacional com os freis capuchinhos.
Pediram-me que partilhassem com vocês uma experiência que marcou-me ao longo do meu processo vocacional, do início (e quando será que tudo começa?) até agora. Pois bem: quando cumprimentei um morador de rua que encontro na pastoral sempre procuro dizer o nome, tento recordadr-me. Um deles, ao ser chamado pelo nome chorou e disse-me. “Frei, alguém ainda lembra meu nome”. Este é Jesus abandonado, esquecido, empobrecido, que nos fala o evangelho (Mt 25, 31 ss.). Por isso que em meio às dificuldades, por maiores que sejam, a vida religiosa consagrada continua sendo uma resposta para o mundo tão carente de esperança solidariedade, amor e fidelidade.
Via Capuchinhos