Quem pensa que o tema “vocações” é restrito a um pequeno grupo de pessoas, a uma elite de “escolhidos”, engana-se, pois vocação é uma realidade para todos. Se há um coisa que nos assemelha a todos é o fato de que todos somos chamados!
A vida é o primeiro chamado que recebemos, ela não nos é devida, é um dom. Existimos, mas poderíamos não existir. Se eu me encontro neste mundo é porque recebi um dom inestimável, o dom por excelência, o dom da vida. Viver é a primeira tarefa que nos é confiada. Viver não qualquer vida, mas a vida de uma pessoa humana, um ser querido por Deus de uma forma totalmente diferente dos outros seres, no qual Deus quis colocar a sua imagem e semelhança, fazendo dele um representante seu no meio de toda a criação. Importa lembrar isso hoje quando vemos que outros seres da criação acabam ganhando mais relevância do que a vida de um ser humano.
Com a vida também recebemos o chamado a tornar-nos filhos de Deus, pela graça da fé e do batismo. A vocação à filiação divina é o mais sublime chamado que se pode imaginar. Com propriedade, pelo batismo, nos tornamos filhos de Deus, pois a sua vida é comunicada a nós pelo Espírito Santo. S. Leão Magno (séc. V), num dos seus sermões natalinos, exortava os cristãos a tomarem consciência de sua dignidade, pois se tornaram participantes da natureza divina.
Esta filiação divina é vivida, depois, de forma bem concreta a partir da vocação específica atribuída a cada um dos filhos de Deus, seja o matrimônio, o sacerdócio ou os vários tipos de vida consagrada, no mundo ou fora dele.
Ao começar o mês de agosto somos chamados primeiramente a renovar a nossa consciência de chamados. O fato de termos sido agraciados por Deus indica que a nossa vida deve ser vivida na lógica do dom. É precisamente assim que a vida e a vocação de cada pessoa se realizam, quando compreendemos que é próprio da nossa vocação à vida, à filiação divina e em qualquer estado de vida, a doação. Quanto mais uma pessoa é capaz de se doar aos demais, mais realizada vê a sua própria existência. Ao contrário, quanto menos se doa mais se frustra.
Uma outra tarefa que se torna inadiável é aquela de promover a consciência vocacional. São João Paulo II dizia que era preciso anunciar a boa-nova da vocação. Lembrar a todos que são chamados por Deus e, dessa forma, tomar uma consciência sempre nova do dom. Isso, de fato, é uma boa notícia que dá sentido e razão de alegria renovada em qualquer circunstância que se viva.
Jesus no evangelho nos deixa um missão urgente quanto as vocações: a oração. É preciso pedir ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua messe. O dom das vocações específicas deve ser implorado. Nesta questão, parece-me que ainda não avançamos. Às vezes parecemos mais preocupados com as estruturas pastorais no tocante às vocações do que convencidos que sem a oração nada acontece. Hoje se fala muito de crise vocacional. Porém, creio eu deveríamos insistir mais em pensar nas estratégias para promover a oração pelas vocações do que simplesmente multiplicar as pesquisas sobre o assunto. Não quero com isso desvalorizar nem as estruturas pastorais vocacionais sem os estudos nesse campo, mas devemos ser mais simples, aderindo ao convite que o Senhor nos fez no Evangelho a rezar pelas vocações.
Que este mês de agosto possa nos levar a implorar com mais insistência e a ajudar muitas pessoas a rezarem para que o Senhor ofereça ao seu povo as vocações de que tem necessidade.
Dom Gilson Andrade da Silva
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador